terça-feira, 24 de outubro de 2017

tarde tranquila

Não me senti preocupado com a salvação da minha alma, face ás minhas turbulências em vida, estranhamente feliz, coisa rara, direi. Lá estarei para prestar as minhas contas, sem medo por morte seja, me assuste o caldeirão do inferno. Este fim de tarde deu-,me vida e gratidão de a ter vivido, estrada fora, com o propósito honesto e sem subterfúgios, de perceber agora no obstáculo intransponível do que tenho assegurado, mais dia menos dia. Ora; nada disto me assusta ou me condói, num mundo tão parvo de soberba e desprezo pelos outros, cujo ódio rosna com brutalidade, alimentando-se das habituais miudezas, tantas vezes de rua para rua, a dois passos de ti e de mim.

Aos 76 anos de idade, recordo já uma mão cheia de mortos, de pessoas que amei e que foram desaparecendo, recordando-as nas fotografias e na minha memória. Os pais, Avó São, que percorria o caminho da Barca, até Montemor , para levar ao seu nétinho, o tacho de sopa com carne de porco e chouriça O menino aprendiz de barbeiro, não podia apanhar sol! A broa, a broa amassada pelas suas mãos, que sabor e que recordações com gratidão. O instinto de sobrevivência desafiou-me neste fim de tarde para intimas reflexões, que vou existindo como sobrevivente da minha própria vida, mas sonhando, sonhando e amando os projectos e as causas, até um dia destes. Não faço ideia nenhuma ideia nenhuma desta tarde tranquila em 23 de Outubro de 2016, mas ainda aparece por aqui ás vezes

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