A gripalhada, num gajo que raramente está doente aos 76 anos de idade, é de louvar a Deus, caso tivesse em mim o sentimento da gratidão, no sentido generoso de uma dádiva da natureza.
No meio daquele desatino, dei por mim numa exclamação, circunscrita á família, face a uma brutal quebra de motivação. Cheguei a velho num instante. Bolas para isto, Com tanto que fazer e sonhos para realizar, A minha mulher que não perde pitada para me propor o razoável, acudiu-me no desanimo. Deixa lá homem, a gripe passa e depois tu voltas a pensar que és novo! Ora eu que continuo a viver com recordações e exemplos do passado, sabia que aquela frase. Vai,vai, um dia serás velho, foi dita pela minha saudosa MÃE, por volta dos meus 15 (61 anos depois, trago-vos este facto), quando eu já ganhava a vida, cortando barbas a dez tostões, no meu lugar do Casal Novo do Rio, ajudando nas despesa da casa.
O meu trabalho localizava-me numa modesta barbearia, mas também visitava os doentes e idosos, nas suas casas.Os lares estavam muito longe do meu povo no Casal Novo do Rio, envelhecendo e morrendo em casa das famílias, ou então no hospital, em Montemor, foi o que aconteceu naquela época com os idosos que eu conheci, inclusive, o meu pai e a minha avó, o que já não aconteceu com a minha MÃE, tendo-me valido os meus queridos irmãos, isto porque a minha ausência de Montemor, assim o permitiu
Um idoso, porém, e porque a minha inocente idade, ainda não dava para perceber os valores da solidariedade, dormia numa cama ( enxerga) mas no soalho da casa, o que me levou a cortar-lhe a barba (sem ajuda de ninguém ) com o pobre idoso deitado, sem que tivesse outra pessoa, que lhe levantasse a cabeça.A minha rejeição em cortar-lhe a barba de 8 ou 15 dias , foi sempre uma luta que perdi com a minha Mãe. pois entendia a bela criatura de Deus, que devia cortar-lhe a barba, dizendo-me com aquele falar meigo e terno, Tens que ir, tens que ir cortar a barba ao velhinho, meu filho, olha que te peço pela alma do teu pai, Vai, vai, um dia serás velho
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