Existe nos seres humanos o prazer em fazer o mal, enquanto não descobrem no seu intimo que o melhor prazer está no equilíbrio de nos situarmos no bem, coisa difícil na minha natureza e de cada um, mas temos que remar contra ventos, porque merece a pena.
Por aqui ninguém é Santo.Se julgam que existe por cá essa divindade? Se pensar assim estou a precisar de psiquiatria para chegar á conclusão da minha vulgaridade, no meio de tanta maldade.
Ser verdadeiro é outra coisa. Um dever do meu quotidiano, de coisas que nos animam a viver com os outros, sem a caridadezinha ou a invenção soturna do bonzinho que vai á missa e depois é um sacana, engolindo a hóstia para mostrar aos outros a sua santidade que não existe Não percebo essa cosmética se vivo o quotidiano com intensidade e o seu realismo possível, não me traindo com falsos sentimentos de partilha,(muitos não a mereceram ) mas isso faz parte da natureza humana e não sinto que isso faça o meu desanimo.Este caso que vos relato hoje é da própria vida de todos e dos meus sonhos e no que me dá a natureza. Fui eu o protagonista como poderiam ter sido outros. Não me revejo simbolo de nada, não me preocupo com as vossas criticas elas fazem parte dos encontros e desencontros,são precisas para me sentir igual e livre.Somos iguais a milhões de pessoas que felizmente existem, enquanto outras existem só para si, mas vamos á realidade dos factos.
Se a vida é por vezes chocante, o caso do rapaz arrastado, é tão verdadeiro que não consegui ficar indiferente ou fingir que não percebia os seus gestos estranhos a merecer a minha atenção, face á sua inquietação gestual e aflitiva..
Estava sentado no murito que contorna o lago, junto ao Bar Borda do Rio, Freguesia de São Pedro, apertando a cabeça com as duas mãos e num estado desesperado,andrajosamente vestido ,de cabelo a soltar-se fora do boné.
Aproximei-me dele e sentei -me ao seu lado, perguntando-lhe o que e ele tinha e se tinha fome. Percebi que era mudo e que por gestos procurava manifestar-se, acenando-me com a cabeça que sim, tinha fome.
Do Bar veio a comida que mastigou como o fazem este tipo de deficientes, desconexos e doentios, ávidamente,,sôfregos, desaparecendo a comida num ápice, enquanto outras pessoas se aproximavam do viajante mal cuidado
Pouco depois levantou-se e caminhou com as pernas arqueadas, dando a ideia que mais á frente iria cair, unindo os pés e as sapatilhas em forma de V. tal o seu arrastar e esforço para se mover, caminhando com dificuldade, provocada por uma aguda deficiência motora que se juntava á outra de não falar
Fui á minha vida e pouco depois quando já me dirigia para a Figueira da Foz, junto á rotunda do restaurante Lota Nova,encontrei-o e ofereci-lhe boleia.
A dificuldade em saber para onde pretendia ir foi enorme, mas avancei muito devagar pela ponte, pois corria o risco do rapaz abrir a porta do carro em andamento. Pedi-lhe calma, face à agitação que mostrava e que me levou a pensar em o levar ao hospital ou então chamar a policia, não o deixando entregue ao acaso num qualquer sitio, como poderia fazer tal coisa?.
Pelos gestos que fazia, percebi que fugia de alguém, daquela localidade de S. Pedro, alguém que o agrediu como tentou explicar-me por gestos, tentando que eu entendesse o sucedido e eu entendi que lhe deram pancada. Mostrou-me os braços e um pequeno arranhão na cara. Fiquei preocupado. Que vou fazer com este rapaz, para onde vai? Mas ele sabia para onde queria ir, já que ao chegarmos ao cruzamento do Galo Douro, mandou-me parar o carro e saiu apressado, caminhando pela berma da estrada, sempre a olhar para traz e levantando um dos braços, em geito de adeus. Entretanto, fiquei a olhá-lo até à curva, deixando de o ver,Julguei que o rapaz deficiente continuava a sua triste aventura. Liguei o carro e fui verificar se continuava a caminhar, mas não. Subia a custo uma pequena ribanceira, que tinha sobre si alguns prédios o que me transmitiu tranquilidade. Decerto iria procurar pessoas da sua família, fugindo assim a estupidas agressões.o rapaz que se arrastava numa difícil mobilidade
MIseráveis.