sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Gentes do mar

(Excerto do folheto da Junta de Freguesia de S.Pedro que inclui boa informação sobre a Cova Gala)

Gentes do mar imenso,corajosos até ao último suspiro ao enfrentar as ondas de vários metros de altura,por vezes engolindo as suas embarcações.Forte motivo de conversa com estes homens do mar, a forma corajosa como buscam o seu sustento e das famílias,as suas nobres vidas.Sinto que lhes devo a minha solidariedade e porque não a minha gratidão. Estas simples gentes da Freguesia de S. Pedro, Cova Gala,a um instante de Figueira da Foz, ao longo destes quatro anos de convivência e apoio profissional,elevaram a minha auto-estima profissional.Depois de muito calcorrear na minha aventura do melhor que fazer na vida nesta profissão de Cabeleireiro de Senhoras e de Homens, depois de Lisboa,Braga,Paris,Costa Adriática, escolas de formação e de trabalho,contactos da alta moda e fantasias que me exigiam linguagem e formas palacianas,com esta gente simples e expontânea,senti que tinha encontrado a minha raíz social e de origem expondo-me e recebendo lufadas de humildade,sem a parvoice da encenação a que por vezes os palcos da moda dos cabelos obrigaram.Aprendi a valorizar o que somos e para onde vamos. O João sem abrigo,dormindo num automovel com os seus cães de estimação,o Pópó que prefere o chão frio para dormir as suas sonecas,o José Bucha,entre outros desprotegidos da sorte ou do juízo,porque não o ter já é também uma desdita,têm sido para mim fonte de crescimento humano e social,de jeito a compreender a minha precariedade.Mas a freguesia de S. Pedro é também uma festa. No Verão com as suas excelentes praias,multidões de banhistas,fala-se na construção de um Hotel,ideias movimentam esta freguesia de futuro e de arejadas e amplas ruas.Depois temos ainda as iniciativas associativas e o S. Pedro,padroeiro das gentes locais,ao qual os homens do mar nas horas de oração e de aflição por vezes,pedem a sua protecção.De um modo generalizado estou grato à população,já recordo os que partiram e alguns deles com sepultura nas frias águas da pesca do bacalhau,e aqueles dois amigos que se afogaram por baixo da antiga ponte dos Arcos. Nessa manhã o sol encobriu-se por entre as nuvens tal foi a brutal e fria notícia que mais uma vez tinha caído sobre os homens do mar. Eu gosto de realçar a importância da vivência dos dias para encontrar a razão porque sentimos que gostamos de nós mesmos e acabamos por aceitar os outros da melhor maneira e sem azias.Eu na Cova Gala encontrei a comunicação franca que dispensa embirrações.Ninguém é igual a ninguém e a minha porta, e dentro dos limites, jamais se fechou a quem quer que seja. Porque a gratidão é um alimento que ajuda a estar bem.

Na foto, eu a pentear num salão em Lisboa, no ano de 1964.Um Diploma que resistiu ao tempo e à minha desorganização com papéis!


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