sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Já não Há Jornais


A memória às vezes é traiçoeira.Talvez por isso procuro relembrar emoções passadas e recuar em projectos que fazem muito tempo.Entre o que lá vai lá vai e o presente,que se esfuma à velocidade da luz,esta fase é de reflexão e análise sobre a razão da morte lenta dos orgãos de informação em Montemor, com as suas 14 freguesias em volta.Nestas se criaram mercados próprios e as pessoas só vêm à sede do Concelho pagar os tributos da sua cidadania originando que na freguesia de Montemor a fixação de pessoas é diminuta.Há dias o montemorense António Pardal que tem no sangue a discussão dos problemas da sua terra, enquanto lhe aparava o pelo,dizia-me:"Não temos jornais locais em Montemor,nem rádio,nem futebol,uma tristeza,vai tudo para a Carapinheira que vai ter o campo relvado e Montemor, sede do concelho,uma tristeza."Como que a deitar água na fervura segredei-lhe:"A vila tem poucos habitantes e como são sempre os mesmos surge o cansaço e não é fácil o amadorismo,daí as dificuldades em manter os projectos."Pois,pois é,agora até deve ser mais difícil. Estávamos nisto e como que a incutir-lhe alento e alguma esperança de que os valores ainda estão em Montemor,disse-lhe que a minha memória ainda não me atraiçoou,pois tivemos o jornal de Montemor, Baixo Mondego e Gândaras,Terras de Montemor,Entre os Rios,o Montemorense e a rádio local,no tempo da pirataria,outros tempos,mas melhores dias virão!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pensamento de Hemingway

Um idealista é um homem que, partindo de que uma rosa cheira melhor do que uma couve, deduz que uma sopa de rosas teria também melhor sabor.
Ernest Hemingway

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ódio nas palavras de Eça de Queirós


O ódio é um sentimento negativo que nada cria e tudo esteriliza: - e, quem a ele se abandona, bem depressa vê consumidas na inércia as forças e as faculdades que a Natureza lhe dera para a acção. O ódio, quando impotente, não tendo outro objecto directo e nem outra esperança senão o seu próprio desenvolvimento - é uma forma da ociosidade. É uma ociosidade sinistra, lívida, que se encolhe a um canto, na treva. (...) Mas que esse sentimento seja secundário na vasta obra que temos diante de nós, agora que acordamos - e não essencial, ou supremo e tão absorvente que só ele ocupe a nossa vida, e se substitua à própria obra.
Eça de Queirós, in ‘Distrito de Évora’

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Os tempos da Rádio


Volto a falar-vos do Jornal de Montemor,1985 a 1989.Foi negociado nessa altura por Santiago Pinto e a Rádio Beira Litoral,em Arazede,tendo por base que as candidaturas às frequências das rádios locais necessitavam de preencher os seus requesitos com a posse de um jornal.Santiago Pinto exultava nos seus poemas e prosas de ocasião os valores das terras de Montemor,mas o bichinho do negócio levou-o a vender o jornal à Rádio de Arazede sabendo que a sua terra,pois S. P. é natural de Vila Nova da Barca, disputava em Lisboa,a candidatura á frequência de Montemor-o-Velho.Foi um periodo de intensa polémica sobre quem poderia usufruir da frequência á Rádio local pois era voz corrente que Arazede dispunha de apoios políticos no processo das candidaturas tanto mais que tinha perdido já o jornal a favor da freguesia de Arazede.Mas o Dr. Deolindo Correia ,o técnico da Rádio,de nome Camilo,o falecido Henrique Pardal,entre outros,tinham feito um excelente projecto da candidatura onde se justificava que o elevado Monte de S. Gens serviria em função da qualidade auditiva o espaço Concelhio de Montemor-o-Velho. Mais tarde esta vantagem da elevação do Monte veio a provar-se porque a Rádio Beira Litoral não se escutava em muitas zonas de Montemor,logo que foi autorizada a emitir,uma vez que tinha ganho a frequência para o concelho de Montemor.Tudo isto tem pano para mangas mas lá chegaremos com o devido tempo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A máquina do tempo


Do Atlético Montemorense muito teriamos para escrever neste blog,mas basta por agora, e vamos lá ao Jornal de Montemor,1985/1989.A máquina do tempo marcou já uma época do mensário e limitou também o meu espaço de intervenção,isto pelo facto de 24 anos depois vivermos de memórias e da sua história.Naquele tempo a par da participação na rádio local de Montemor, que manteve as populações interessadas nos seus programas de informação,foram 4 anos da melhor carolice.Santiago Pinto,o responsável da organização do jornal, titulava-o de independente e apolítico,parangonas demasiadas,pois a Câmara de Pinto Correia,o Presidente, liquidava todos os meses a importância acordada entre o jornal e o seu amigo político.Por isso foi um jornal acomodado e estratégico que não podia criar opinião à oposição mas serviu as populações e as instituições e teve o seu relevo por terras de Montemor.Quando anos depois tenho a aventura do jornal Terras de Montemor compreendo perfeitamente que quero ser independente do poder político. Voltarei agora com temas do Jornal de Montemor mas quero outra vez reconhecer que fico a dever à Dilia,qual museu familiar,ter todos os números do jornal devidamente encadernado.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Saia do mato!


Escrevo sobre as minhas histórias associativas,que não do crime e do triste caso da Casa Pia,num país que nos orgulha mas muito mal frequentado por alguns, e onde a autoridade tarda em impor-se pela lei e pela grei.Um dia destes falei-vos dos bolos que os jogadores da Figueira e que jogavam em Montemor,comeram ao bom do proprietário da carrinha.Sendo assim vamos á historia do Antonino Leal,fundador do Atlético Montemorense em 1939,hoje com 90 anos acamado em Montemor e em sua casa. Tinha um complexo constante contra os árbitros quer o Clube ganhasse ou perdesse,face a uma contestação que fazia parte da sua paixão pelo muito que queria para o Atlético. Certa noite assisti ao programa a Liga dos Últimos,na R.T.P.,sobre o Montemorense e quando reparei no meu amigo Antonino a ser entrevistado para dar a sua opinião,logo pensei lá vêm os arbitros,querem ver?E assim aconteceu porque lhe estava na massa do sangue.Mas não era odioso,era assim a sua paixão.Respeitava-o pelo simbolismo que representava no clube e porque o acompanhou até a saúde o ter permitido.Num Domingo de Inverno no Campo do Enxofães,rodeado de imensa floresta,estávamos junto à linha lateral, em cima de uma ribançeira e o meu companheiro Antonino iniciou a sua contestação: seu este seu aquele;olha o fora de jogo e outras cenas que não vem a propósito porque a grandeza dos homens está na compreenção dos fenómenos e no seu perdão.Eu disse-lhe: Antonino,olhe que isto pode dar para o torto,tenha cuidado porque a G.N.R. está de olho em nós.Dizia ele: Lá está você com medo!Mais isto e aquilo.Às tantas vejo o auxiliar a falar com a autoridade e a olhar para nós e já a movimentarem-se na nossa direcção.Aproximei-me do seu ouvido e disse-lhe: Antonino fuja que eles vem aí!E quando eles chegaram junto daquele grupo já o grande amigo do Atlético estava engolido pela floresta,dando à perna porque o caso poderia ser muito bicudo.A noite há muito que tinha caído sobre o vale e nós,os que o tínhamos acompanhado ao campo do Enxofães,gritávamos alto e o som ecoava na floresta:Antonino,Antonino, saia do mato porque já não está por aqui ninguém.Ainda hoje o vejo a subir um caminho lentamente,cansado e enlameado.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O homem da carrinha dos bolos

(Os Lapões e ao centro,Dr.Pascoal,do Santana)

O percurso de cada um é feito de aventuras e mudanças porque existimos para isso, e quantas vezes tão curto e sem história.Claro que não tem lógica que o nosso percurso se esperasse sentado à espera que, na sua imparável corrida, não o conquistássemos, cada um à sua maneira,nos seus ojectivos.A meu ver somos protagonistas de um tempo que nos foi oferecido,mas justamente temporal e, melhor pensando,que nos controlou no assumir e no construir,como acontece agora comigo nesta viagem às recordações que foram vida e aventura por terras de Montemor.Poderia falar-vos dos Bombeiros,Filarmónica,Santa Casa,que tempos esses que já foram,mas no presente motiva-me antes o Atlético Montemorense ,porque eu sou pelos fracos e o clube desportivo montemorense está em agonia ,porque todos o abandonaram e eu também, e já lá vão uns bons 7 anos.A dra Carla Serrano,com outros,ainda vai realizando o Concurso Vestido de Chita,gente que ama e nunca desiste,são cá dos meus, e é assim que merece a pena viver sempre. É caso para dizer: pergunta ao vento que passa como vai o Atlético Montemorense! Mas o vento nada me diz.Nos tempos em que o Atlético viveu jornadas de apoteose e tinha muitos amigos,por volta 1987 a 89, da Figueira iam muitos atletas, alguns conversados nas Abadias,onde aos Domingos,eu e o treinador Macalene do Montemorense,procurávamos reforços. Luis Almeida, cujo filho joga na Alemanha,com sucesso,foi das Abadias para Montemor e teve um bom êxito como ponta de lança. O gémeo Carlos Alves,Santos,Ferreira,Quintino os irmãos Lapões e tantos outros,assim como o treinador Macalene e João Almeida fizeram jornadas de futebol que o tempo levou nos Campeonatos distritais de Coimbra.Foi necessário alugar uma carrinha para levar e trazer os jogadores que se deslocavam a Montemor aos treinos. O condutor e proprietário, homem que ganhava a vida a vender bolos, e que um dia se esqueceu de os esconder,não sabia que depois de um treino a fome é mesmo danada de suportar e eis que no dia seguinte logo de manhã, e quando se preparava para os entregar aos clientes,bolos nem vê-los!Tinham sido o alimento dos jogadores. Veio ter comigo a lamentar-se que no treino da véspera lhe tinham ido aos bolos. Não me diga?!,-disse-lhe eu,-o clube vai pagar-lhe os bolos,fique descansado. E pagou mesmo os bolos ao cidadão que fazia este frete de ir a Montemor de carrinha para ganhar mais algum dinheiro para a sua vida,não foi justo que tivessem comido os bolos e não os pagassem.Mas a malta era nova e quando a fome aperta não se cuida da melhor ética. O bom do homem da carrinha dos bolos,onde estará hoje?Na foto, os irmãos Lapões que foram dois excelentes jogadores do Atlético e ao meio o Dr Pascoal,que jogava no Santana.

Macalene, o treinador do Montemorense

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O pintor Manuel Machado

Manuel Machado,pintor,nasceu nas Meãs do Campo,freguesia de Montemor-o-Velho,em mil oitocentos e oitenta e quatro.Aos vinte e um anos rumou a Paris onde ingressou na Academia Julien,mas antes tinha já frequentado a Escola de Belas Artes em Lisboa.Regressou a Portugal no fim da Primeira Grande Guerra e morreu em Lisboa em mil novecentos e vinte e três,com apenas trinta e nove anos,vítima de tuberculose. A Câmara de Montemor-o-Velho lançou um calendário como sendo a primeira de um conjunto de iniciativas de homenagem ao artista das Meãs.Só no Museu Nacional Machado de Castro estão patentes quatrocentas e vinte e cinco obras do artista. Luis Leal,Presidente da Câmara,lembrou que o programa de homenagens em que a autarquia está apostada quer recordar outros homens e mulheres de Montemor e do Concelho que se notabilizaram no panorama nacional e internacional,já que Manuel Machado foi um dos primeiros artistas portugueses a expor no Salão de Paris em mil novecentos e onze.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Orquestra nos Anjos


No passado sábado à noite, a Igreja do Convento de Nossa Senhora dos Anjos,em Montemor-o-Velho,recebeu a Orquestra Clássica do Centro,dirigida por Virgílio Caseiro, e tambem o Coro dos Orfeonistas da Universidade de Coimbra,Rão Kyao e Carlos Guiherme,num espectáculo de intensa beleza musical.O convento de antiquissíma história esteve completamente lotado e o repertório de elevado nível musical,dividido em duas partes,teve no Maestro Vergílio Caseiro o saber e a comunicação com o público feita de arte, graça e risos, originando franca empatia. Strauss,Bernstein,Zeca Afonso,Verdi,entre outros autores,foram conteúdos musicais diversificados, boa escolha que marcou o concerto de ano novo que decerto voltará em dois mil e dez ao Convento onde está perpetuado Diogo de Azambuja, o fidalgo e guerreiro montemorense.Foi uma organização da Câmara Municipal de Montemor, paróquia e Junta de Freguesia,numa bela prenda quando se inicia o novo ano.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

E viva o Atlético Clube Montemorense!

(1º Plano: Henrique Palma, Mário Jorge,Tó João,José Anónio,Eduardo Simões,Luís Barbosa,actual edil,Afonso e Barriga.
2º Plano: Gilberto Moio,António Costa,Fernando Cabete,Fabrício Pinto,Armindo,Armando,Milheiro,Virgílio,Maranha,Fernando,Girão)

Mais uma recordação, ACM,Campeões Distritais da 3ª Divisão, época de 1975/1976! O Blog está a mexer com alguns Montemorenses.Os tempos são outros mas as recordações de uma época distante fazem a conversa e levam a pensar num hipotético encontro em Montemor-o-Velho,com todos os que ao longo de muitos anos estiveram,quer dirigentes e atletas,tambem os patrocinadores ao serviço do Atlético Montemorense.Tudo isto pelo facto de termos publicado uma fotografia de mil novecentos e sessenta,retirada do Jornal Figueira Spor,com uma equipe de futebol do Atlético. Logo e num entusiasmo bairrista,o Setélio,um dos que fazia parte daquela formação,entre outros,disse:”Podíamos organizar em Montemor um encontro com os amigos do Montemorense,revertendo para alguém a designar o que fosse possivel angariar com a iniciativa.”E não faltariam montemorenses,apesar da crise,a juntar-se a esse encontro,estou certo disso.Dessa equipe de mil novecentos e sessenta,além do Setélio,estão ainda connosco; Serrano,Pingó,Figueira e o irmão Mário,Maganão,e a mascote da equipe,Aristides.Apesar de terem já passado quarenta e e nove anos,ainda temos por aí um punhado de amigos da Colectividade e todos aqueles que até a esta data viveram as iniciativas do Atlético,suficientemente capazes de apoiar esta reunião que ainda por cima teria carácter de bem fazer. Nunca fomos daqueles que ficámos ao portal da vinha,isto é,erguemos a bandeira com a modéstia e paixão,não esperando que outros fizessem o que nos pertencia,mas concerteza que a Presidente Drª Carla Serrano,o Dr. Luis Barbosa,antigo atleta e Presidente,o raçudo,porque jogava no limite da sua força, António Pardal,são bem capazes de dar uma mãozinha a esta iniciativa. A ideia aqui fica e para já dois elementos existem, eu próprio e o Setélio, e não será difícil encontrar ums fadistas para animar um encontro carregado de história e simbolismo,já que em Setembro próximo o Atlético Montemorense fará setenta anos de existência e os Montemorenses não o devem deixar morrer porque as Instituições são sempre um bem colectivo para os que têm a sensibilidade de entender esse quadro de cidanania.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O FUTEBOL E A CHITA

(Festa de despedida do jogador Ermínio Maranha)
O Atlético Montemorense foi fundado em mil novecentos e trinta e nove e desde aquela data até mil novecentos e noventa e dois teve treze Presidentes da Direcção. E na Asssembleia Geral,de mil novecentos e trinta e nove a noventa e um ,tambem treze,enquanto que no Conselho Fiscal e na mesma data,mais ou menos o mesmo número.Foi fundado por Urbano Marques Bom,Joaquim Galvão,João Castanheira,Oscar Maranha,Hermínio Veloso,já falecidos,enquanto Antonino Leal,com noventa anos,está actualmente acamado em casa da sua filha Olívia.Relembro ainda o genro Elias Lopes,também um apaixonado do Atlético e meu companheiro como tantos outros montemorenses desse tempo.Falar-vos-ei hoje dos Concursos do Vestido de Chita de imensa popularidade em Montemor, a partir de mil novecentos e oitenta e um,com a Comissão do Carnaval a organizar um dos primeiros Concursos no largo da Feira e já lá vão vinte e oito anos.Estava então no Bairro Novo,junto ao Casino da Figueira da Foz,como Cabeleireiro de Senhoras. O Sansão Coelho, apresentador do Concurso,disse à Comissão que seria razoável convidar um Cabeleireiro para membro do Juri,alguém ligado à moda.Vieram ao meu salão e lá fui eu com um jornalista do Jornal de Notícias,duas modistas da Figueira,fazer parte do juri pela primeira vez e que no meu caso teve longos anos de apoio,mas ligado ao Montemorense.No ano seguinte e porque a Comissão não realizou o carnaval,foi a partir daí que a festa da chita se inicia no Atlético Montemorense e durante anos com muitos êxitos e popularidade na região Centro do País.Em mil novecentos e noventa e um,o Jornal o Título,sediado em Lisboa e com redacção em Leiria,excelente patrocinador,noticiava que já estavam inscritas as concorrentes da Marinha das Ondas,Miranda do Corvo,Granja do Ulmeiro,Figueira da Foz,Buarcos, Cabo Mondego, Tentúgal, Santo Varão,Moinho da Mata Montemor,Quinhendros,Alfarelos,Soure,tal era o impacto da festa da Chita e do Atético Montemorense. Realizou-se no Largo da Feira,muito embora a Praça da Republica e Castelo,fossem espaços onde se realizavam os Concursos,mas era a feira o local que atraía mais assistência.Assim foi que a três de Setembro de mil novecentos e noventa e um,o Diário de Coimbra noticiava que no largo da feira se reuniram duas mil pessoas para assistir ao Concurso,com a participação de vinte e cinco concorrentes,o que no dizer do jornalista,tornava a festa da chita numa garantia nas festas de Setembro, seria um cartaz importante e que cativava as gentes da região.Nesse tempo eu e a Dília,na Rádio Maiorca,”Voz de Montemor”,tínhamos um programa semanal que apoiava as empresas e as empresas apoiavam o Concurso Vestido de Chita com prémios interessantes para as concorrentes.O Hotel Rosa Mar e a Residencial Hani,ofereciam uma semana de férias no Algarve para duas concorrentes,a troco da promoção na Rádio Maiorca. Fazíamos directos com os gerentes dquelas empresas turísticas. Mas a história dos Concursos do Vestido de Chita não cabe neste apontamento pois tem uma longa caminhada nas festas de Setembro em Montemor e seria injusto não prestar homenagem aos que comigo trabalharam num projecto popular e com organização do Atlético Montemorense que viveu excelentes períodos de actividades,onde se destacava o futebol distrital. Nesta altura a drª. Carla Serrano é a Presidente do Clube e continua com êxito a organizar o Concurso Vestido de Chita,com o apoio de outros montemorenses que não querem que a chita seja um tecido de pobres e para esquecer.Já vão mais de sete anos que de todo deixei Montemor e as minhas actividades nas Instituições,continuando a liquidar as quotas a todas elas,mas vou voltar este ano para recordar o que não mais voltará,a carolice e a dedicação de tantos companheiros que nada ganhavam com a sua paixão pelas emoções por Montemor.Tudo se transformou,julgo,pois hoje até a carolice sai cara e só com apoios seguros estas iniciativas tem espaço para funcionar.O Atlético Montemorense julgo que agora não tem actividades.Mas a Dra. Carla Serrano lá vai promovendo mais uma festa da chita que teve e voltará a ter,certamente, o apoio popular das gentes das terras de Montemor.

(Concurso do Vestido de Chita,Largo da Feira,1981)

sábado, 10 de janeiro de 2009

Recordações no baú

( O Davis é um cão de raça chinesa, um shar pei)
Volvidos sessenta anos,que tempo imenso,já feito de alegrias e tristezas, é graças aos cuidados da Dília que tem gosto em manter as peças das recordações,há mais de quarenta anos,que voltei a ver a fotografia da Farrusca, a cadela da minha infância.Viaja agora pela Internet,com surpresa minha! Confesso que sou um desastre na manutenção de objectos de estimação,é próprio da minha indisciplina,ao contrário da Dília,minha esposa,qual conservadora de museu,que guarda recordações da sua infância.Mas eu não, e tenho pena de não saber guardar as minhas memórias.Então,a mãe Dília e a filha Isabel surpreenderam-me porque me revelaram a Farrusca na net.Eu já não sabia onde parava a fotografia.Em cima da taipa,de boné, eu feliz com a Farrusca e o seu filhote.Valorizo de todo a condição humana e a sua racionalidade humana e o social.Mas nunca deixei que os animais não tivessem o seu espaço na minha vida, entendo deverem partilhar o nosso percurso com os cuidados que lhes devemos na sua condição de irracionais.A cidade,os quartos,as pensões,influenciaram o meu afastamento e contacto vivo e emocional com os cães, mas nunca digas não,pois agora volto a estar envolvido com o Davis,um cão que foi cachorro pequeno e que agora pesa mais de 20 kg e que me devolve estímulo e a noção certa de que os animais nos transmitem muito. Se porventura não apareço à hora habitual fica alvoraçado correndo de um lado para outro,em casa da minha filha, porque o amigo não veio buscá-lo para que ele possa ir sair e alçar a pata e marcar o seu território,às vezes são mais de vinte mijadas sobre o chão,paredes,árvores!!Mas o Davis sensibiliza-me pela sua aproximação à família,porque a sente no seu pormenor,cuida dela e da casa, e se alguém faz barulho ou se mete com o meu netinho,é certo e sabido que o bom do cão se aproxima com a garantia que está ali para o defender,rosnando com modo de poucos amigos. O Davis é um “SENHOR “pois vai à clinica, tem uma alimentação própria,toma banho com gel indicado e vive em família.Coisa muito diferente aconteceu com a Farrusca,que também tinha uma família,mas faltou-lhe tudo,como era normal, e como acontecia também com muitos humanos na minha infância.Ainda não tinha chegado a época da sociedade de consumo,via canina,como hoje acontece com a indústria de produtos para animais de estimação,actualmente em franca prosperidade.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Farrusca!


(Fotografia tirada pelo Padre João Direito, na minha eira)

Os que estudam o fenómeno do comportamento dizem que o estruturamos nos primeiros anos de vida,face ao meio e educação,o pior e o melhor carácter e a racionalidade.Talvez tenham a sua razão,por mim acho que sim, e vou explicar o porquê das minhas recordações no Casal Novo do Rio,Montemor-o-Velho,o tal povoado alumiado à luz do petróleo,ainda nos anos cinquenta, e mais, se a memória não me engana.Entre a vivência rural pois no povoado todos trabalhavam nos campos,com um ou outro empregado nos caminhos de ferro,guardo ainda recordações que são marcadamente intemporais,três delas não se apagam:a Farrusca,uma cadela rafeira,muito baixa e comprida e de orelhas caídas que só lhe faltava falar,como se costuma dizer; o caldo e a broa que as crianças comeram com sofriguidão e por fim a barba do velhinho que deitado numa esteira assumia o seu estado e o desleixo dos familiares.Vamos por partes:regredindo décadas e décadas,recordo que aquele animal ainda me transmite uma ideia de bem estar,pois a Farrusca era meiga e tratava a filharada com inacreditável cuidado,deitando-se estendida para que os filhotes mamassem à sua vontade, e depois pegava neles com os dentes e levava-os ao sítio certo onde se acomodavam,ali ficando tempos imensos,num hino elevado da natureza.Como gostava de viver a vida,já que a Farrusca foi intensamente alegre e comunicativa,paria muitos cachorros e a minha avó Conçeição metia-os num saco e deitava-vos,naquele tempo,no imenso Rio Mondego,numa triste crueldade e num povoado tão pobre e tão precário na sua instrução e respeito pelos animais.Aliás,existiu o Zé Santos,já falecido,que tinha o complexo dos gatos,qual pedrada certeira que os aniquilava de todo,quem sabe se não teriam ficado estropiados por lá ,não sei!Do caldo e da broa com que as crianças aconchegaram os seus estômagos, e que reflectia as dificuldades de muitas famílias,escrevo agora.Tratou-se de uns pais,os Barrigas,que cedo iam para os campos e deixavam os filhos entregues ao seu destino, Em minha casa havia caldo,broa,matança do porco ,vinho na pipa,o que naquela época já era muito bom. As crianças tinham fome,indiscutivelmente,mas o meu pai,homem austero e dominador da familia,sempre dizia: “Olivia, dá caldo e broa às crianças.”E elas sentavam-me nuns bancos de madeira ,muito pequenos e comiam enquanto a Farrusca parecia contente também por ver as crianças felizes. Naquela época mil novecentos e cinquenta e sete,já trabalhava na Figueira da Foz. Era o “Coiffeur do Casinó” como diziam os meus amigos das noitadas e borgas, mas voltava todos os domingos ao meu Casal Novo do Rio,onde cortava as barbas e os cabelos aos meus conterraneos e à noite a cidade esperava-me de novo para outra semana e foi assim até aos vinte anos, altura em fui para a Policia Militar,em Belém.Eu tinha um cliente velhinho a quem me custava fazer a barba,pois o Ti Cavaleiro,estava deitado numa esteira e a sua cara foi sempre escura,tendo em conta a sujidade que deslizava à frente da navalha de barbear.Um domingo e outro,esquecia-me de propósito,até que um dia,a Mãe Olívia que me deixou belos exemplos e bons conselhos,pediu-me com a sua benevolência: “Vai,vai fazer a barba ao homemzinho,filho, pois um dia tambem serás velho como ele.E a partir daí fui sempre e com a Farrusca esperando por mim, sentada,olhando aquele triste quadro social.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Sempre o bichinho dos jornais

(Em Belém, Lisboa)
Quando eu vou para a tropa em sessenta,lá veio mais uma notícia do jornalista, agora ao serviço da Pátria. Foi por essa altura que abandonei Montemor e a Figueira mas não o jornalismo amador,sempre modesto,porque a graça está nisso,já que para escrever um parágrafo era uma enormidade de tempo.Confesso que a mania da comunicação me atormentou sempre e já em Lisboa escrevi um pequeno texto no jornal República,do grande antifascista Raul Rego,a denunciar a violência na escola em Montemor,pequena noticia que deu polémica na Vila,pois era um periodo em que o professor batia bestialmente nos putos,hoje é o contrário,enfim.Os democratas em Montemor assinavam a República,claro que era um Jornal da oposição ao Salazarismo e em Montemor,voltei a ser o Repórter Mabor,mas desta vez a mania tinha ido mais longe ao denunciar a brutalidade do senhor professor,já falecido e que esteja em paz.Quando em mil novecentos e setenta oito,regresso à Figueira como Cabeleireiro de Senhoras e me aproximo de Montemor e das Instituições,então sim,tenho uma história de paixão com o jornalismo amador,mas sentindo sempre a humildade de que a minha profissão estava na arte dos cortes de cabelo e a brincadeira dos jornais era uma fuga e uma emoção e nada ganhava com o meu amadorismo,apenas e só o prazer de comunicar. Jornal de Montemor,Correio da Figueira,Beiras, Diário de Coimbra,Gandâra Mira,então na Rádio Maiorca e Beira Litoral,foram anos e anos de coisas que me davam gosto e aprendizagem com os outros. E depois acabei mesmo por fundar o jornal Terras de Montemor e Região Centro, em 2002, que durante um ano esteve nas mãos dos leitores.

Repórter MABOR, o sonho do rapaz!!!

(Ao lado de António Moreno, já falecido)

Nasci em mil novecentos e quarenta no Casal Novo do Rio a dois passos de Montemor-o-Velho, um lugar rural banhado pelo imponente Rio Mondego de cheias imensas que traziam ainda maiores dificuldades às suas humildes gentes,que laboravam de sol a sol pelos campos.Apesar de o meu pai pertencer aos Serviços Hidráulicos do Mondego,logo com um ordenado mensal,toda a família trabalhava as terras menos eu porque lá em casa diziam que eu não aguentava a chuva e o sol,por isso seria melhor aprender um oficio. Assim quis o destino.Em Montemor existiam naquela época cinco barbearias,tambem latoarias,alfaiatarias, pequeno comércio e era só escolher a “formatura”. Fui trabalhador estudante,pois então!Da Escola primária à barbearia e fui um felizardo no dizer dos meus irmãos pois até o almoço me levavam à loja,pela mão da minha avó,pois o menino não podia apanhar o sol escaldante,era fraco de forças,diziam.Jamais reneguei as minhas origens,mas eu sabia que existia outro Mundo,porque aquele em que vivia era pobre,era da época em a que a luz do petróleo alumiava o povoado.Por volta dos quinze anos já estava na Figueira da Foz. Novos hábitos e cultura,mas aos domingos lá ia eu às minhas gentes e trazia notícias para o Figueira Spor,um jornal mensário orientado pelo Aníbal de Matos filho.De bloco e caneta na mão percorria as freguesias de Montemor,com o Atlético Montemorense,gostava à brava, e a minha inocência fazia o resto.Muito mais tarde já casado é que a Dília,nessa altura jovem como eu e que ia tambem ver os jogos ao Campo das Lages ,me disse:”Sabes tu eras conhecido em Montemor pelo “Repórter Mabor”, como no programa da Emissora Nacional.”Ou seja, gozavam comigo e eu nem sabia e lá andava a fazer reportagens,armado em grande comunicador.O futebol em Montemor nessa época atraía a população ao campo das Lages,não havia televisão e os entretenimentos foram as jogatanas de meia bola e força,mas sempre com grande alvoroço e a rivalidade com a Carapinheira veio até aos nossos dias,Pereira,Gatões,SantoVarão,Ereira ,Formoselha,se bem me lembro,novos e velhos,aos domingos lá estavam para a gritaria das fortes emoções e dos golos. Eu sem saber estava na crista da onda,era o repórter Mabor ao serviço do Figueira Spor. (Recortes das minhas reportagens, Figueira-Sport, da década de 1960)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano velho,ano novo, a crise continua

O Dois mil e nove aí está já a percorrer o seu percurso depois das euforias próprias na despedida do velho Dois mil e oito,que já foi novo,antes de cansado e assumida a sua missão,acabar na história do tempo,já que no existir para morrer,ninguém se safa,e tão pouco os dos milhões,acumulados ao jeito de meter a mão,num país adiado,num país que é só para alguns Portugueses.O Presidente da Republica foi contundente na sua mensagem de ano novo ao dizer que a crise é bicuda para este ano tendo em conta a dívida pública, pedindo verdade aos governantes, e só não falou nos roubos de igreja de muitos sem vergonha,e foi pena.Cidadão comum como eu sou, que vem dos tempos das cargas policiais Salazaristas,no Rossio,em Lisboa,da leitura do Marx e da utopia de uma sociedade equilibrada,esperando que o sonho do vinte e cinco de Abril fosse um facto, e vendo o que vejo agora!!!Fico pateta e não acredito que haja tanta desonestidade e mais grave é que ninguém vai preso nesta balbúrdia dos que mais gamarem melhor ficam. Há dias na T.V.passou uma reportagem sobre as reformas de muitos portugueses idosos e deixou-me revoltado e triste a pensar nos que sofreram horrores às mãos da P.I.D.E para vencer o Salazarismo para que outros, e aproveitando o comboio do oportunismo,aí estejam no aproveitamento descarado de um sistema político e social que favorece afinal quem mais se aproxima do próprio sistema.Ano velho, ano novo, a crise continua.

Gentes do mar

(Excerto do folheto da Junta de Freguesia de S.Pedro que inclui boa informação sobre a Cova Gala)

Gentes do mar imenso,corajosos até ao último suspiro ao enfrentar as ondas de vários metros de altura,por vezes engolindo as suas embarcações.Forte motivo de conversa com estes homens do mar, a forma corajosa como buscam o seu sustento e das famílias,as suas nobres vidas.Sinto que lhes devo a minha solidariedade e porque não a minha gratidão. Estas simples gentes da Freguesia de S. Pedro, Cova Gala,a um instante de Figueira da Foz, ao longo destes quatro anos de convivência e apoio profissional,elevaram a minha auto-estima profissional.Depois de muito calcorrear na minha aventura do melhor que fazer na vida nesta profissão de Cabeleireiro de Senhoras e de Homens, depois de Lisboa,Braga,Paris,Costa Adriática, escolas de formação e de trabalho,contactos da alta moda e fantasias que me exigiam linguagem e formas palacianas,com esta gente simples e expontânea,senti que tinha encontrado a minha raíz social e de origem expondo-me e recebendo lufadas de humildade,sem a parvoice da encenação a que por vezes os palcos da moda dos cabelos obrigaram.Aprendi a valorizar o que somos e para onde vamos. O João sem abrigo,dormindo num automovel com os seus cães de estimação,o Pópó que prefere o chão frio para dormir as suas sonecas,o José Bucha,entre outros desprotegidos da sorte ou do juízo,porque não o ter já é também uma desdita,têm sido para mim fonte de crescimento humano e social,de jeito a compreender a minha precariedade.Mas a freguesia de S. Pedro é também uma festa. No Verão com as suas excelentes praias,multidões de banhistas,fala-se na construção de um Hotel,ideias movimentam esta freguesia de futuro e de arejadas e amplas ruas.Depois temos ainda as iniciativas associativas e o S. Pedro,padroeiro das gentes locais,ao qual os homens do mar nas horas de oração e de aflição por vezes,pedem a sua protecção.De um modo generalizado estou grato à população,já recordo os que partiram e alguns deles com sepultura nas frias águas da pesca do bacalhau,e aqueles dois amigos que se afogaram por baixo da antiga ponte dos Arcos. Nessa manhã o sol encobriu-se por entre as nuvens tal foi a brutal e fria notícia que mais uma vez tinha caído sobre os homens do mar. Eu gosto de realçar a importância da vivência dos dias para encontrar a razão porque sentimos que gostamos de nós mesmos e acabamos por aceitar os outros da melhor maneira e sem azias.Eu na Cova Gala encontrei a comunicação franca que dispensa embirrações.Ninguém é igual a ninguém e a minha porta, e dentro dos limites, jamais se fechou a quem quer que seja. Porque a gratidão é um alimento que ajuda a estar bem.

Na foto, eu a pentear num salão em Lisboa, no ano de 1964.Um Diploma que resistiu ao tempo e à minha desorganização com papéis!