Nas décadas de 40/50/60 os aprendizes de barbeiro, provinham de famílias modestíssimas que trabalhavam de sol a sol nos campos do Mondego. Os miúdos só tinham alternativa nos ofícios, nomeadamente de barbeiro, sapateiro, alfaiate...
O José Rasteiro nasceu em Pereira, uma das freguesias de Montemor-o-Velho, perto de Coimbra. Em criança passava horas num albergue de idosos, onde conheceu um Sr. de idade de nome Pinto, que lhe ensinou a fazer umas barbas e uns cortes de cabelo. O meu colega falava desse tempo, numa transparencia nobre, recordando a sua infância e adolescência humilde que jamais tentou esquecer ou esconder.
Foi depois grumete num café da baixa de Coimbra, e levava os cafés aos salões na zona, mas um deles, o Salão Azul, o melhor salão de Coimbra nessa época, tendo à frente o grande cabeleireiro Tozé (António José Freitas que cursou medicina e se tornou médico) abriu-lhe as portas, e foi aí que o Zé iniciou uma carreira brilhante na arte de cabeleireiro de senhoras.
Durante 17 anos, fez parte daquela equipa de bons profissionais, mas estava na hora de "voar"... Estabeleceu-se por conta própria na mesma rua um pouco mais abaixo. Na despedida emocionada chegaram às lágrimas, o TóZé já não era só o patrão, era o amigo que de todo o coração lhe desejava êxitos. E ele teve-os, e em larga escala.
Pela minha parte além da amizade do amigo de longa data, recordo a sua colaboração nos festivais de penteados no Casino da Figueira da Foz (respondia sempre ao meu apelo) as viagens a Paris, as visitas recíprocas, as conversas telefónicas intermináveis sobre a arte que nos aproximava.
O tempo passa e vem o esquecimento, mas o Zé integrava-se no grupo dos excelentes cabeleireiros de Coimbra, alguns já desaparecidos: - o Edgar, Victor, Ilídio, o Carlos Gago, e o inesquecivel Tozé.
No ano em que completou 50 anos de carreira, deu uma entrevista ao Jornal dos cabeleireiros, ( Rui Romano) onde falou com gosto do seu percurso na profissão. Referiu também a sua humildade de origem, aliás era ponto assente. A T.V. mostrou os seus trabalhos, relevando o mérito.
Mas o Zé não aguentou a doença da sua esposa, retida numa Instituição em Coimbra, com doença incurável, a terrivel alzheimer. Ultimamente apoiado pela psiquiatria, mas possívelmente sem resultados, o meu colega e amigo Zé, ontem não quis viver mais !
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