quinta-feira, 15 de julho de 2010

Memórias do meu Casal Novo do Rio

Ali juntinho ao Mondego
Há um recanto em sossego
Um pequeno casario,
Ao qual a mão de Deus deu
Tudo o quanto lhe merceu
O casal Novo do Rio.


Nessas sombras da paisagem
Seca a roupa junto á margem
Em frente,á casas caiadas,
Á noite há gente a rezar
Na eira o milho a secar
Há cheiro a terras lavradas..

Lembrando as suas memórias
A avó conta histórias
De tempos que já passaram
Na bilha á água da fonte
Alí no sopé do monte
As nascentes não secaram
O calor duma fogueira
Aquece o caldo da ceia
Onde não se sente o frio
Na arca não falta o pão
E na grelha assando vão
Os peixes que vem do
Rio.

Com as mãos entrelaçadas
Há beijos nas namoradas
Junto ás cinzas do borralho
Lá pela ponte velhinha
Chiam carros á noitinha
Que regressam do trabalho.

Nos currais dormita o gado
O seu sono sossegado
Na palha dos arrosais
Lá fora a noite escurece
E todos rezam uma prece
Os filhos beijam os pais.
Almas sãs em corpo são
Segredos do coração
De gente humilde maior!
São a vida,a Natureza
São quadros de beleza
Das terras de Montemor.


Nasci em 1940 no Casal Novo Rio,onde não havia luz nem água canalizada,mas existia o Mondego,um rio de águas límpidas, que hoje já não existe.As minhas gentes trabalhavam nas terras do nascer ao pôr do sol,havia só um rádio na mercearia e taberna do Ti-João.Foi ali que ouvi pela primeira vez um relato de futebol entre o Benfica e o Braga.O Benfica perdeu por um zero,e mesmo assim fiquei vermelho até hoje.Tudo isto por volta de 1947/48?Bom...volvidos vários anos encontrei o Santiago Pinto e com ele "caminhei" na rádio (local) e nos jornais de Montemor,e até fundámos o Correio da Figueira. Este trabalho em verso,li-o várias vezes nos meus programas de rádio, com musica de fundo; eu adorava,porque sentia naquelas rimas,em pormenor, a vida das minhas gentes;sempre fui um sentimental! Mesmo hoje,lembro a panela do caldo, que era de ferro,a fogueira,a cinza no borralho,enfim a vida na aldeia naquele tempo.Uma Hora à Beira do Mondego,foi o primeiro programa na rádio local de Montemor,com o Santiago que me levou para lá;também a Dilia,que gostava muito de poesia,e temas de Montemor.O Henrique Pardal estava na direcção de programas,havia interajuda,o programa cresceu,passou a ser Três Horas à Beira do Mondego.O Santiago deixou a rádio,mas continuou a escrever sobre Montemor,rimando como ele gostava,e nós semanalmente divulgávamos.Guardo alguns desses escritos,e decidi colocá-los no blogue. Guardo também a recordação dessas horas na cabine,nervos à flor da pele,risos,censuras mutuas,o Henrique apaziguador,era saudável aquele convívio.A vida tem um limite e estes amigos já partiram na viagem sem regresso,porém jamais os esqueceremos.

2 comentários:

  1. O seu amigo Santiago Pinto,que eu também conheci,
    deve estar a revolver-se na cova,perante o seu atabalhoamento ao transcrever este trabalho de poesia por ele criado.Começou bem,mas depois foi tudo ao mólho e fé em Deus(como sói dizer-se)...
    Então oe espaços,não se fazem?............

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  2. Caro anônimo.Revolver-se na Cova em Vila Nova da Barca? Se alguem conheceu o Santiago fui eu!Prefiro perdoar-lhe as ofensas porque sou mais feliz.Sem razão deixou-me de falar mas eu estive em Vila Nova da Barca no ultimo adeus.Atabalhoamento? Sem duvida ...Mas o que ficou para mim foram jornadas sem fim por terras de Montemor e defeitos tambem eu tenho aos mólhos.Volte sempre e com paz para si e para os outros.

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Obrigada por comentar as minhas ideias.Volte sempre!