quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Prada, os sapatos nos pés do Papa.


Fiquei a saber à pouco que o Papa usa sapatos especiais e extremamente caros. Como desconhecia, fiquei admirado, mas cada um come do que gosta (se puder...)  Neste caso pode, e por isso tudo bem.
E a pensar em sapatos caros, lembrei-me dos tamancos de antigamente. Do tempo da minha infância no Casal Novo do Rio, também chamado Barca em Montemor-o-Velho, e recordei os meus tamancos.
Se chapéus havia muitos, (dizia Vasco Santana) tamancos então, havia muitos mais. Até porque são aos pares, enquanto que os chapéus, cada cabeça um só chapéu, e cada cabeça diz o povo, sua sentença. Os tamanqueiros mantinham uma industria muito próspera nos anos 40. Havia tamancos para homens, mulheres e crianças. O material utilisado era principalmente a madeira para o rasto, enquanto que a parte superior era duma espécie de couro, e nalguns era um tecido de lã grosseiro e forte. Era costume mandar solar os tamancos no sapateiro. Este aplicava umas tiras de sola grossa que protegia o tamanco na superficie inferior, e também evitava que o utilizador escorregásse.
Eu quis falar dos meus tamancos, pelo facto de ainda me restarem algumas recordações humildes do meu tempo de criança, as quais não desejo perder. Mas também não corro esse risco porque elas estão de tal modo enraizadas, que ainda hoje sem dar por isso as observo e as sigo, se não na totalidade, pelo menos em grande parte.
Com os meus tamancos devidamente solados, eu caminhava na minha Barca, na terra batida cheia de pó no verão, e lamacenta no inverno. Também no regueixo rezulentos seixos, lavados pelas fortes enchurradas da chuva abundante.
Montemor estava a dois passos, mas era uma distância que se fazia de tamancos, porque os sapatos eram para calçar só ao Domingo para ir à Missa na Igreja da Vila, para acompanhar as procissões e pouco mais.
Uns dias antes de fazer a minha primeira Comunhão, que era no mês de Junho na Festa do Corpo de Deus, a minha saudosa Mãe Olivia levou-me á feira de Montemor e comprou-me uns bonitos sapatos para estrear nesse dia, juntamente com a indumentária também nova correspondente ao acto. No entanto avisou-me: - olha filho, não os podes calçar para andares nestes caminhos, teem de estar poupados para usares depois noutros sitios e ocasiões. Ouvi o conselho, devo tê-lo seguido e sobretudo não o esqueci. Era assim naquela altura, mas estas limitações não nos entristeciam, achavamos normal.
Estava escrito que eu teria de procurar vida na cidade, e assim aconteceu; Lisboa acolheu-me, e por exigência do género de trabalho a que me dediquei, usei bons sapatos, mas sempre procurei os saldos, nessas sapatarias de nome, assim como aqui nesta Figueira que agora é a minha cidade. Mas as influências ficaram, pois ainda gosto de comprar na feira. Várias vezes compro calçado na feira da Tocha, ali também há qualidade. Ah, e já tenho comprado aos Ciganos... Mas tamancos é que já não compro, essa é a minha saudade, enquanto sapatos Prada, o luxo e a marca internacionalizada, só agora sei do seu comercio!O Papa teve a sorte de não ter nascido no meu sagrado lugar do Casal Novo do Rio, e por isso não tem o meu privilegio em falar dos tamancos do meu povo, porque o seu caminho não foi o meu de pedras e lama, e que orgulho tenho nele.


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