sábado, 5 de março de 2011

O Povo real.


A cadeira do barbeiro, cabeleireiro, tem algo de confissionário, apesar de não possuir o divino das complexidades da vida. Os profissionais desta actividade para transmitir confiança aos seus clientes (convém referir que a comunicação com as mulheres é mais delicada do que com os homens ) devem estabelecer para si o “sepulcro” dos diálogos esquecendo-os logo a seguir e sem outros comentários. Neste caso do Sr. José Calhau, 72 anos de idade e 40 a trabalhar no mar agitado, das traineiras à difícil pesca do bacalhau, vive hoje a sua revolta por tantos sacrifícios e por tão pouco ser agora a retribuição da sua reforma.
Sentado enquanto eu tesourava o seu cabelo, o Sr Calhau deixou-me agarrado aos cabelos, já que economista caseiro, fez contas e mais contas, da água, gáz, alimentação, e depois perguntou-me: “Já viu como vivo com cinquenta contos e estes ladrões em meia dúzia de anos ficam chapados de dinheiro? “ Chapados foi o termo do Sr.Calhau, e tem razão, porque cobertos de chapa, ou se entendermos o lugar-comum, o povo real sabe o que diz e o que quer das suas lamentações e para bom entendedor..

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