quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A caridade para mim não humilha, antes pelo contrário.

Felizmente que não tenho pensamentos carreiristas, em que o chefe falou e o mundo acreditou; pior ainda ajoelhou! Felizmente para mim, a cada um a sua racionalidade no sentir e dizer; sendo por esta ordem de ideias a eterna discussão das causas e a cada um a sua lógica É isso que vos venho dizer; acredito no carácter da caridade, julgando os outros com os mesmos direitos e deveres, iguais aos meus, trazendo-os do levantamento do chão, se possível lavar-lhe a imundice da face, sem nojo ou práticas comiseradoras, expurgando assim a tal caridade denegrida por quem é incapaz sequer,de se aproximar dos empestados mal cheirosos, quanto menos dirigir-lhes a palavra. A caridade tem por si o sentimento da justiça e da igualdade, não é um patamar ideológico e raivoso, porque benigna e paciente, quantifica valores seguros na dignidade humana Se contestam a caridade e o trabalho de Isabel Jonet, no Banco Alimentar, só porque teve um dia mau,façam favor de deixar o comodismo e trilhem o seu caminho e vão ver quanta trabalheira e preocupação dá a caridade ,que no meu pensar e agir, nada tem em comum com a caridadezinha.
É que esta onda de protesto contra a Sra. Jonet, a mulher que há 20 anos trabalha para o próximo, já fez mais pelos que precisam de apoio, do que aqueles teóricos da escrita; ó se fez. Terá metido a pata na poça,decerto, mas porra não me lixem o juízo, todos somos imperfeitos e temos dias que não podemos sair de casa com tantas asneiras. Deste modo. prefiro agradecer-lhe o seu extraordinário trabalho e ainda por cima voluntário, à grande causa da solidariedade para com os nossos semelhantes, do que atirar-lhe pedras, como fazem aqueles outros do blá-blá nos jornais e blogosfera.
Na caridadezinha, existem os que são felizes com a purificação da sua alma e menos verdadeiros com o todo dos outros e da sua integração total nos direitos e deveres, porque a caridadezinha é uma   espécie do fazer para ganhar o céu,vendo nos outros os objectos da valeta. Não; a verdadeira caridade os que a sentem, não são donos dela, porque ela é uma grande criação humana, elevando-os no estado social e na proximidade..É pois o que tem feito a Isabel Jonet, criticada por aqueles que tem repulsa pelos andarilhos da vida e da rua, que cheiram mal. Estou farto de tanta hipocria dos que são incapazes, sequer de uma palavra de estimulo, pois bem os vejo a fugirem dos que por várias razões são incapazes de olhar por si, os andarilhos da rua e da vida.
A caridade é a forma mais autentica do amor; na reciprocidade e obrigações.A caridade nunca falha no coração do bom samaritano, porque é igual para os despojados dos bens materiais, sente-os como seus, ri e chora com eles, se for caso disso. Na caridadezinha das tias de antigamente, trazia consigo as diferenças de classes, porque esse aparato dava prazer aos donos dos que precisavam de apoio, é outra gente e outra razão de existir, porque existir é sentir e viver a racionalidade e compreende-la.

3 comentários:

  1. Os Pobrezinhos

    Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres.
    Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida. Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam.
    Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:
    - Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.

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  2. (continuação)
    O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente».
    No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre.
    Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:
    - Não se chegue muito que esta gente tem piolhos. Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto
    (- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro) de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico.
    - Agora veja lá, não gaste tudo em vinho o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:
    - Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu.
    Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros:
    - O que é que o menino quer, esta gente é assim e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.
    Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse:
    - Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão. Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso. Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me.
    E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis.

    Uma crónica de António Lobo Antunes

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  3. Não vi o video da Jonet, não tive tempo. Mas a senhora tem mais do que um dia mau na sua vida. Possivelmente terá muitos só que apenas alguns chegam à TV ou aos jornais. Aqui há uns anos soltou os cães em cima de uma pequena associação de protecção aos animais acusando-a de coisas incríveis. Que ela se estava a aproveitar da fama do Banco Alimentar para obter alimentos para os cães e que as pessoas confundiam as duas quando chegavam à internet para dar comida aos humanos e que isso era indigno!!!!!!Tudo porque a associação usava as mesmas cores no logotipo que o Banco Alimentar. Não pegou no telefone para falar com eles, chamou advogados pagos a peso de ouro - O Banco Alimentar tem muito dinheiro - e estes escreveram uma carta para os pobres amigos dos animais que de tão ridícula também fez muitas ondas na TV, nos jornais e nos blogues. Nessa altura muita gente deixou de apoiar a Jonet e agora, e eu não sei o que ela disse, vai acontecer o mesmo.

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