Viver o presente, é conhecer e homenagear o passado, as suas vivências que nos trazem lições de vida, os seus costumes, já Inexistentes nas terras de Montemor-o-Velho, quando pretendo recordar homens e mulheres que nos deixaram legados de perseverança na sua penosa sobrevivencia social. Compete-nos( a meu ver) preservar as identificações socioculturais das nossas gentes, se entendermos saber como são as nossas origens e a alma da nossa comunidade.De onde vimos, quando se trata de repormos factos e a heroicidade dos barqueiros, desaparecidos há mais de 40 anos, e que nos surgem nos arquivos da Cãmara de Montemor, referenciados já em 1843.
Ao trazer-vos esta razão, também banhada com alguma emoção, nestas minhas raízes e no pulsar delas entre o passado e o presente, sejamos humildes com o nosso reconhecimento, face a todas as criaturas em qualquer tempo das suas vidas. Foram uma realidade profunda de grande riqueza interior e social que hoje abraçamos numa simples e forte definição, as gentes que enfrentaram e ganharam a vida no extinto e caudaloso Rio Mondego, em Montemor-o Velho.
Se das pescas assaram os peixes nas brasas dos seus borralhos, comercializando ainda variadissimas especies; as carpas,tainhas, enguias,barbos,as lampreias que subiam o rio. até ao Casal Novo do Rio. Hoje quero recordar-vos a BARCAÇA, e os seus barqueiros, as nossas gentes, que vencendo ventos e fortes correntes num rio impetuoso, navegaram nele heróes desconhecidos, que nos deixaram o hino da sua trabalhosa coragem e de parcos dividendos.( ó vidas de sofrimento e de honra entre o dia e o sol, o luar e a noite. Num rio que ficará para sempre envolvido em famílias que procuraram com bravura o seu sustento, tão longe e perto de nós porque os sentimos ainda e sempre.
A recente morte do barqueiro Santa Rita, que acompanhei durante 11 anos de enfermidade e que foi morrendo lentamente sobre a ordem da natureza, revelou-me por este contacto um sentimento de compulsiva compreensão sobre a vida dos barqueiros( moldados ao rio em Montemor-o-Velho) que remontam a 1843. O modelo da barcaça, era uma réplica daquela que foi construída em 1852, para que a Rainha D.Maria II(quando visitou Coimbra e Montemor) para atravessar o Rio Mondego. Se o rio foi sempre promessa de vida melhor, de famílias que ele alimentou, recordamos então os barqueiros ( tantos quantos foram enviados pela Mônica Santa Rita, a meu pedido. 1947, Rufino Góis, 1947 a 1953, a Mônica não enviou informação. 1957/ 1963, José Maria Santa Rita. 1960/1970, Antônio Costa Maia, Na década de 70, talvez José Maria Cardoso
A barcaça deixou de funcionar em 1974, com a construção da ponte de Alagoa, inaugurada naquele ano.Resta-me recordar Lito Tomé. Escreveu e musicou um poema sobre os barqueiros, o qual foi difundido nas rádios locais na Região Centro, cabendo-me o privilégio da sua divulgação na Rádio Maiorca, na presença daquele nosso amigo montemorense, excelente fadista e homem de cultura.
Descobri no Arquivo da Cãmara de Montemor, este poema do Dr Ernesto Tomé,advogado, figura destacada nas décadas de 50/60, na Figueira da Foz.Lavradores e seareiros,
Vivendo o mesmo calvário
Todos no cais se juntavam.
Naquele vai-vem sem horários,
Eram heróes os barqueiros,
Entre esforço e aflição,
Alto preço tinha o pão.
Que aquela barcaça passava.
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