“Tocam os sinos da Torre da Igreja, há rosmaninho e alecrim pelo chão...”é assim o belo poema escrito por António Lopes Ribeiro, ao qual João Vilarett transmitiu o seu enorme talento para a declamação. O prior, os bombeiros e os anjinhos na procissão, quantas foram as vezes que nas rádios locais se escutava este poema e se propunha aos ouvintes o belo quadro e a simplicidade das nossas gentes?
Na Torre do relógio que se avista em redor da vila e pelos campos do Mondego, já em 1851, o relógio lá no alto, badalava e ordenava o tempo e horas das populações, enquanto José Thomé recebia por triméstre 2$163 reis, pois foi o responsável pela corda da sua manutenção.
Mas existe um sino em Montemor, o da Igreja de S.Martinho, choroso e nem sempre grave, conforme a sua mensagem feita de constantes badaladas, e que sensibiliza pela circunstância e oportunidade do que pretende lembrar.
Se nas badaladas religiosas, os montemorenses compreendem as suas fortes pancadas e daí o apressar para aqueles serviços, já o mesmo não acontece com a procissão do Senhor dos Passos.
No Sábado de Ramos, da Igreja dos Anjos, passando pela rua principal e subindo a encosta do castelo, até à Igreja de Alcáçova, onde se sentenciou a morte de Inês de Castro, é naquela longa subida que a recriação do sofrimento da cruz, nos interroga o porquê da morte do Homem Santo. Mas o sino em cima das nossas cabeças, pungente de som e ainda com a música fúnebre da Filarmónica 25 de Setembro, sempre me reduziu à minha insignificância do comum dos mortais, face a uma representação litúrgica e profundamente sentida no seu drama de morte e ressurreição.
Naqueles dias o sino em Montemor sempre fez parte da minha saudade e alguma fé, quando recordo o meu pai que me levava às cavalitas e coçava a sua barba na minha cara de menino inocente, e o sino nunca se cançou de nos fazer a sua companhia, como que partihando também o sentimento da vida e ainda hoje o sino bate, bate e transforma aqueles dias em boas recordações, mas o longo histórico da Igreja está cheio de sangue com o seu fervor religioso e de conflitos imensos, mas eu não a vejo assim, sinto-a á minha maneira e isso basta.
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