Em 1956 Montemor-o-Velho era uma Vila justamente considerada a Universidade dos barbeiros, pois fazia-lhe a guia de marcha com o respectivo canudo de aprovação, colocando-os no mercado de trabalho em todo o país. Eu também sou um desses, só mais tarde fui para a escola dos cabeleireiros. Foi portanto como barbeiro e demasiado jovem que conheci em Buarcos,a minha primeira patroa, a saudosa Ritinha, a Sra. D. Rita. Marcou-me profundamente pelo seu carater; voltei a encontrá-la e ao marido muitos anos depois, convivemos, e tive o prazer de a acompanhar nos últimos tempos da sua vida, já viuva e doente, com o apoio da minha mulher, pois ambas se tornaram amigas.
Mas voltando ao passado: - "estacionei" na Figueira da Foz. Viajei na camionete da carreira, do Moisés, a unica que existia entre a Vila e a Cidade. Também utilizava o comboio, e até bicicleta, e por aqui barbeei até aos 20 anos, vivendo a minha intensa mocidade, até chegar a data de cumprir o serviço militar, ao tempo obrigatório. Calhou-me ser em Belém na policia militar. E lá fui à aventura para Lisboa...
Ao deixar a Figueira perdi talvez a oportunidade de vir a ser um verdadeiro jornalista, esse era o meu sonho. Eu escrevia uns parágrafos modéstos, sobre o pouco que acontecia em Montemor, para o jornal Figueira Spor, de Anibal José de Matos, mas o que era isso para eu chegar ao jornalismo? - Mas isso constato eu agora.
Gostava de ler, livros e principalmente jornais. Foi no jardim Municipal desta cidade a Figueira onde eu vivia,que tive conhecimento da morte do Padre Américo. Foi em 1956, num desastre de automóvel, no norte do país. A sua admirável obra, que ele apelidou de rapazes para os rapazes, rompia naquela época, e o Padre Américo era já o meu ídolo. Não me recordo a origem, mas sei que guardava entre os meus poucos pertences, uma pequena fotografia dele, préviamente encaixilhada.
Nunca me esqueci deste grande Sacerdote dos Pobres, embora já não saiba da fotografia. Mais tarde vim encontrar apoio a estas ideias na minha mulher, e há mais de trinta anos que o Jornal O Gaiato entra em nossa casa, via CTT.
Já tivemos o raro privilégio de visitar a Aldeia dos rapazes em Paço de Sousa, e de nos curvarmos em silêncio respeitoso, junto à Campa de Padre Américo ( uma simples pedra, quáse rasa, pois ele não desejava mais.) Pretendo ali voltar ainda.
-OH! Legislador vê o que escreves, quando fazes leis das coisas sagradas da vida!
Isto nos deixou-nos escrito, este admirável homem ao serviço do sofrimento dos que dele precisavam, e que ainda hoje é um grande exemplo para todos nós. E devia-o ser ainda mais, para os politicos que querem o poder a qualquer preço, para proveito próprio, esmagando e oprimindo o povo por cá e pelo mundo.
Há setenta anos anos o padre Américo tomou em mãos a cerca dos Beneditinos de Paço de Sousa com as instalações degradadas, e sem mêdo ali construiu a Aldeia para os rapazes do Porto, a sua tão amada e hoje conhecida Casa do Gaiato.
Curvo-me hoje e sempre, em sua memória, tão rica de justiça social. Ela me anima a compreender e a valorizar o bem, a ver a diferença, e a tentar evitar o mal.
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