quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O mar e o latir dos cães, no silêncio da madrugada.

Gostava das noites e das madrugadas quando era jovem, das suas aventuras até ao amanhecer, mas o tempo é o vento que passa e criou outras manifestações nas minhas noites de insónias.É que na velhice se vão perdendo e ganhando outras compreenções e vontades, as que garantem algumas certezas na vivência do dia a dia, que bate com a realidade inoxerável de que somos mortais. E é neste sentido único de pensarmos a lógica da vida se suaviza a  loucura de outros tempos, onde as insónias não me afligiam. Que parva ingenuidade de não se perceber que a matéria tinha limites no tempo, tantas vezes curto para muitos, era apenas o devaneio nessas noites e madrugadas da juventude. A vida tinha uma mensagem invencível e foi tão inocente, porque a natureza se encarregava de me transmitir a sua adequada leveza , tal qual os sonhos que emergiam das emoções e depois acabaram por morrer sobre a praia, enquanto outros se construiram!Ser velho fisicamente,afinal, é uma boa experiência, sentimos que o dom da vida nos valorizou,  percebemos a dimensão do percurso já longo e com ordem de chegada, sem sabermos nada quando é a partida. É neste patamar do irreversível que se cruza o antes com o presente. Temos a certeza de ter perdido a soberba e tantas ilusões que fazem doer;porque não as atingimos, ou não tivemos capacidade para isso, quando o sol da vida ainda tinha a sua chama.. E foi divagando no silêncio da noite, escutando o barulho do mar ao longe, numa noite de insónias, que me envolvia intensamente no som que parecia distante e tão próximo, que valorizei em momentos insignificantes.
Mas os cães, esses animais que são verdadeiramente amigos dos homens ,  faziam a sua festa na rua deserta , ora um ,ora outro, latindo, latindo, e mais tarde ao espreitar pelo canto da janela , a matilha corria pela estrada fora, obedecendo á chefia do companheiro/a que os desafiava com se de ordens se tratasse , ocupando toda largura da estrada. Disciplinada, a matilha corria e latia com a naturalidade dos animais selvagens e sem dono, e eu ao canto da janela valorizei esta coisa simples de mais no silêncio da noite, sentindo-me capaz e vivo no turbilhão da desagradável insónia.

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