Parei o carro, abri a janela:
- Diga , diga, o que se passa?.
- Ah, meu senhor, vai para a Figueira, vai para a Figueira, leve -me , leve-me, e eu respondi-lhe...
- Claro, entre , entre.
A mulher contou-me a sua longa vida de sacrifícios sem que eu tivesse bisbilhotado o que quer que fosse. Mulher da Cova Gala e do mar, foi-me dizendo que o marido tinha falecido no mar aos 32 anos , e que lhe tinha deixado um menino com 6 anos e uma menina com dois anos, numa altura em que não existiam subsídios e a Segurança Social não era para todos os portugueses.Falou-me de Deus, de tal modo que fiquei a pensar que estava em presença de uma crente absoluta, pois foi ELE que lhe deu coragem para enfrentar uma vida dura e de parcos recursos, salientando que foi muito ajudava pelas pessoas da terra , para criar os seus filhinhos, disse-me com emoção e dignidade.
À medida que me aproximava da estação do caminho de ferro, para onde se deslocava no seu destino, sentia-me preso á sua conversa e ao modo natural como pretendia expor-me uma vida de mãe-coragem, intensa e elevada nos valores da maternidade e da família.
Quando parei o carro no largo da Estação, faltavam ainda uns minutos para o comboio partir.
-Sabe; disse-me, foi tão bom o seu favor, molhava-me toda , ah meu senhor!
-Não foi nada, deixe lá isso do favor e quando lhe estendi a minha mão para me despedir, agarrou-a determinada com as suas, beijando-a sem que eu tivesse tempo de evitar o meu contrangimento, face a um beijo imerecido e que não se justificava..
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