terça-feira, 10 de maio de 2011

Matá-los na Praça da República.

A minha mulher Dília Fernandes, já me contou várias vezes e com verdade como se vivia há muitos anos em Montemor-o-Velho, por volta das décadas 50/60, quando o sustento das famílias provinha principalmente do labor nas terras,excepção para o latoeiro, alfaiate, carpinteiros e pedreiros que além da sua profissão pouco rentável,também amanhavam as suas leiras de terra. A Câmara e Finanças tinham o pessoal inerente,pouco,só homens.
Conheci essas gentes nesse tempo e viriam a marcar-me para sempre.
As crises e a pobreza,tal como hoje, nunca são para todos e naquele tempo os poderosos sentiam-se num pedestal e os humildes trabalhavam e não tinham voz,existia o medo de perder o ganha pão (o trabalho), imperava a força das circunstâncias sociais,inclusivé a Igreja com o padre a mostrar-se superior, recordo também o poder do chefe da G.N.R.,distante e autoritário para com o povo. A minha pobre Mãe, temente a Deus e ao poder da G.N.R.,um dia avisou o meu pai. - Olha Daniel, toma cuidado com o cabo da guarda, olha que ele é muito mau e prende as pessoas. Ainda jovem deixei Montemor,mas a Dília ficou por lá mais tempo,e conhecia todos os habitantes da Vila. Tinha amigas e entre elas,uma familia muito respeitada,que como muitas outras viviam do seu honrado trabalho em casas de melhores recursos,e por vezes no arroz e nas colheitas.Era a familia Marques,e a filha mais nova a Ludovina gostava imenso de ler. Havia sempre alguém que emprestava, pois comprar livros,quem podia? Assim ela aprendeu muito.Isto foi a Dília que me contou,pois nesta altura eu andava longe.Eram intimas, e num dia em que a Loduvina desabafava revoltada com a injustiça de não sentir o seu mérito reconhecido,a Dília disse;- ai Ludovina os pobres trabalhadores nunca haviam de vir ao mundo... e ela retorquiu com firmeza;sabe menina Dília como havia de ser? Mortos! Os pobres trabalhadores deviam reunir em linha na Praça da Républica,e uns atiradores com metralhadora a dispararem certeiros, terre!!! terre!!! E eu ser a primeira a cair! E pronto, acabaram-se os pobres! Agora os ricos que trabalhem,talvez finalmente nos deem valor!
Foi um momento de revolta. Mas depois da noite nasce sempre o dia! Anos depois, chamada pelo Irmão, a Ludovina foi para S.Paulo,no Brasil,onde viveu como merecia.

4 comentários:

  1. Fibra, garra, força, e uma alegria (nossa que alegria!!!) são sinônimos de Ludovina.
    Lembro-me de suas cantorias, de alguns tapinhas também devido a alguma mal-criação que eu deveria ter feito, rs, mas sempre com direito a um posterior colo e chamego de tia.
    Lembro-me nitidamente de todas as cores das suas "batinhas" que eram uniforme constante tanto dela quanto da Vó Ema. Não consigo imaginá-las com outra vestimenta senão essas.
    Lembro-me e, agora com lagrimas nos olhos, das bolas de meias (meias do tio Rui) que ela fazia para eu e meu irmão brincassemos de futebol na sala do pequeno sobrado em São Paulo, onde o objetivo era fazer um gol em um Caixote que servia de descanso para suas pernas e que acredito ter vindo de Montemor.
    Lembro-me dela nos ensinando a dançar "o vira"; nos mostrando as fotos de Montemor, do Castelo, da pequena casinha deles, fotos dos meus tios e pai criança. E sempre com uma história engraçada como enredo. Por vezes, saia um palavrão aos comandantes da Ditadura de outrora, rs. O que era extremamente engraçado, pois era um xingamento que de tão verdadeiro e natural tornava-se cômico.
    Lembro-me das dezenas de Natais que passamos juntos a esperar o pai natal. E em todos esses natais lembro-me das madrugadas nas quais ela e a vó ema cozinhavam e faziam os bolinhos de bacalhau, pasteis, broas, paes, e umas massinhas em tiras que marcaram profundamente a nossa infância.
    Também não ha como esquecer das bacalhoadas e das sardinhas à brasa. Nossa, as sardinhas... As sardinhas da tia deveriam ser tombadas como patrimonio da humanidade. E olha que tudo feio num braseiro que de tão simples e enferrujado parecia ter saido dos anos 20.
    Lembro-me de cada lagrima, choro, e tristeza de ao final de cada ano, e com ele o final de cada férias, quando tínhamos que voltar ao Recife e deixá-las em São Paulo. Metade das lágrimas derramadas em minha vida ficaram naquelas calçadas. Nossa! Como nos sentíamos amados por ela e pela vó. Como era tão claro para nós, crianças ainda, a importância que tinhamos para a tia, a vó, a bisavó e o tio. Era como se a vida delas , além de outras coisas, estivessem voltadas para nos esperar para o próximo natal.
    Enfim, ainda lembro-me do perfume e das cores do amor que nos abraçava naqueles anos. Todos eles.... pelos braços da "Tia".
    Obrigado pelas palavras, frases, parágrafos que nos inundaram de boas lembranças e saudades...
    Grande abraço
    Ivan Marques Cadima

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  2. Fibra, garra, força, e uma alegria (nossa que alegria!!!) são sinônimos de Ludovina.

    Lembro-me de suas cantorias, de alguns tapinhas também devido a alguma mal-criação que eu deveria ter feito, rs, mas sempre com direito a um posterior colo e chamego de tia.

    Lembro-me nitidamente de todas as cores das suas "batinhas" que eram uniforme constante tanto dela quanto da Vó Ema. Não consigo imaginá-las com outra vestimenta senão essas.

    Lembro-me e, agora com lagrimas nos olhos, das bolas de meias (meias do tio Rui) que ela fazia para eu e meu irmão brincassemos de futebol na sala do pequeno sobrado em São Paulo, onde o objetivo era fazer um gol em um Caixote que servia de descanso para suas pernas e que acredito ter vindo de Montemor.

    Lembro-me dela nos ensinando a dançar "o vira"; nos mostrando as fotos de Montemor, do Castelo, da pequena casinha deles, fotos dos meus tios e pai criança. E sempre com uma história engraçada como enredo. Por vezes, saia um palavrão aos comandantes da Ditadura de outrora, rs. O que era extremamente engraçado, pois era um xingamento que de tão verdadeiro e natural tornava-se cômico.

    Lembro-me das dezenas de Natais que passamos juntos a esperar o pai natal. E em todos esses natais lembro-me das madrugadas nas quais ela e a vó ema cozinhavam e faziam os bolinhos de bacalhau, pasteis, broas, paes, e umas massinhas em tiras que marcaram profundamente a nossa infância.

    Também não ha como esquecer das bacalhoadas e das sardinhas à brasa. Nossa, as sardinhas... As sardinhas da tia deveriam ser tombadas como patrimonio da humanidade. E olha que tudo feio num braseiro que de tão simples e enferrujado parecia ter saido dos anos 20.

    Lembro-me de cada lagrima, choro, e tristeza de ao final de cada ano, e com ele o final de cada férias, quando tínhamos que voltar ao Recife e deixá-las em São Paulo. Metade das lágrimas derramadas em minha vida ficaram naquelas calçadas. Nossa! Como nos sentíamos amados por ela e pela vó. Como era tão claro para nós, crianças ainda, a importância que tinhamos para a tia, a vó, a bisavó e o tio. Era como se a vida delas , além de outras coisas, estivessem voltadas para nos esperar para o próximo natal.

    Enfim, ainda lembro-me do perfume e das cores do amor que nos abraçava naqueles anos. Todos eles.... pelos braços da "Tia".

    Obrigado pelas palavras, frases, parágrafos que nos inundaram de boas lembranças e saudades...

    Grande abraço
    Ivan Marques Cadima

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  3. Caro Olímpio,
    Boa Noite!
    Chamo-me Ivan Marques Cadima, e sou sobrinho-neto da "Tia Loduvina", filho do Zé Manuel o caçula da Ema com o Alberto.

    Semana passada, durante um evento em um restaurante onde estava com meu pai e minha mãe, meu pai me contou sobre o artigo que você havia escrito citando a Ludovina, e o quanto ele havia ficado emocionado. Na mesma hora, me conectei à internet via celular (telemovel) para também lê-lo. Evidentemente, que a emoção , lembranças e saudades da "tia" fomentaram algumas lágrimas de nostalgia.

    A "Tia" , como sempre a tratamos, foi uma pessoa extremamente importante ao meu pai e aos irmãos, pois coube a ela muita da educação dos Rui, do Fernando e do Ze, enquanto a Vó Ema (que morou conosco até o ano passado, quando faleceu) ia para a lida tanto na casa do Sr. Barbosa, onde também cuidava e educava os seus filhos entre eles o Zequinha que até hoje temos contato, como também quando ela estava no cultivo do arroz.

    Pude conviver e desfrutar do carinho e amor da "tia" durante toda a minha infância, juventude e parte dessa curta vida adulta. A "tia" pra mim, é uma da pessoas mais transparentes, amável, dedicada que conheci.

    Foi também uma das pessoas que mais de doou, dedicou e se entregou aos outros mais do que a ela mesma. E com isso colecionou suas frustrações típicas da cultura de uma época, e mazelas de uma geração. Para ela o outro vinha em primeiro lugar. À ela, depois se deixava ajeitar....
    O tempo correu, as primaveras se sucederam e sempre à ela ...... depois se deixaria ajeitar...

    E assim, foi sua vida. Entre dedicação e amores, e entre frustações e saudades de sua terra e de sua gente.

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  4. Fibra, garra, força, e uma alegria (nossa que alegria!!!) são sinônimos de Ludovina.

    Lembro-me de suas cantorias, de alguns tapinhas também devido a alguma mal-criação que eu deveria ter feito, rs, mas sempre com direito a um posterior colo e chamego de tia.

    Lembro-me nitidamente de todas as cores das suas "batinhas" que eram uniforme constante tanto dela quanto da Vó Ema. Não consigo imaginá-las com outra vestimenta senão essas.

    Lembro-me e, agora com lagrimas nos olhos, das bolas de meias (meias do tio Rui) que ela fazia para eu e meu irmão brincassemos de futebol na sala do pequeno sobrado em São Paulo, onde o objetivo era fazer um gol em um Caixote que servia de descanso para suas pernas e que acredito ter vindo de Montemor.

    Lembro-me dela nos ensinando a dançar "o vira"; nos mostrando as fotos de Montemor, do Castelo, da pequena casinha deles, fotos dos meus tios e pai criança. E sempre com uma história engraçada como enredo. Por vezes, saia um palavrão aos comandantes da Ditadura de outrora, rs. O que era extremamente engraçado, pois era um xingamento que de tão verdadeiro e natural tornava-se cômico.

    Lembro-me das dezenas de Natais que passamos juntos a esperar o pai natal. E em todos esses natais lembro-me das madrugadas nas quais ela e a vó ema cozinhavam e faziam os bolinhos de bacalhau, pasteis, broas, paes, e umas massinhas em tiras que marcaram profundamente a nossa infância.

    Também não ha como esquecer das bacalhoadas e das sardinhas à brasa. Nossa, as sardinhas... As sardinhas da tia deveriam ser tombadas como patrimonio da humanidade. E olha que tudo feio num braseiro que de tão simples e enferrujado parecia ter saido dos anos 20.

    Lembro-me de cada lagrima, choro, e tristeza de ao final de cada ano, e com ele o final de cada férias, quando tínhamos que voltar ao Recife e deixá-las em São Paulo. Metade das lágrimas derramadas em minha vida ficaram naquelas calçadas. Nossa! Como nos sentíamos amados por ela e pela vó. Como era tão claro para nós, crianças ainda, a importância que tinhamos para a tia, a vó, a bisavó e o tio. Era como se a vida delas , além de outras coisas, estivessem voltadas para nos esperar para o próximo natal.

    Enfim, ainda lembro-me do perfume e das cores do amor que nos abraçava naqueles anos. Todos eles.... pelos braços da "Tia".

    Obrigado pelas palavras, frases, parágrafos que nos inundaram de boas lembranças e saudades...

    Grande abraço
    Ivan Marques Cadima

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