terça-feira, 17 de maio de 2011

O Sr. Chuva na Cova -Gala, homem que já não sabe a idade pois obriga-me a contar as semanas e os meses da sua existência, tem um elevado sentido de humor e jeito para a conversa. Entre um café ou corte de cabelo, é gostoso conversar com ele,seja em que matéria.O Sr. Chuva tem uma memória privilegiada deixando-me arrazado e a escutar as suas recordações na Cova -Gala e na Figueira da Foz.
Um dia destes, homem de Cristo e de missas de vez em quando, dizia-me que a Igreja é dos poderosos e não dos humildes,que estes são esmagados pela traficância dos interesses e da sua manutenção. A coisa interessou-me e vai de lhe falar das minhas dúvidas sobre a verdadeira solidariedade de alguns cristãos que falam de Cristo e que não o conhecem, porque na resolução dos problemas sociais e religiosos esquecem os ensinamentos da mensagem cristã.Vejam bem o que eu fui dizer ao Sr.Chuva! Diz-me ele:
 Já leu o livro de José da Silva, Subversão ou Evangelho?
 Não, não li...respondi-lhe.
Pouco depois já o tinha em meu poder e foi excelente companhia neste Domingo. Relata a perseguição ao Padre Mário, Macieira da Lixa, preso em 28 de Julho de 1970, acusado de graves actividades contra a segurança do Estado, tendo-se iniciado o julgamento a 17 de Dezembro 1970 e concluído em Fevereiro de 1971 com a leitura da setença e absolvido pelo tribunal do Porto.
Para já estou numa fase de leitura em que a P.I.D.E. é um instrumento macabro na perseguição ao padre Mário, em cada esquina e em cada missa, um P.I.D.E. elaborava matéria para depois escrever autos sobre autos e de uma mesquinhice tenebrosa, abaixo a liberdade de pensamento de qualquer mortal,tanto mais que falava a verdade do Evangelho, o que realmente ainda hoje incomoda os pantomineiros da religião.
"Serei companheiro particularmente dos pobres e dos oprimidos e dos que são vítimas da sociedade capitalista, porque o povo evangelizado é conduzido pelo espírito Santo",- dizia o Padre Mário nas homilias e aos seus paroquianos.E isto era um atentado ao regime Salazarista .
Entretanto estou já na leitura em que D.António Ferreira Gomes, o célebre Bispo do Porto, expulso do país, entre 1959 e 1969, é testemunha de defesa do padre Mário de Oliveira,ressaltando a sua coragem e inteligência em presença de verdadeiros criminosos, sobretudo quando o evangelho é tão claro na sua mensagem. A Igreja de Salazar e Cerejeira é que deviam sentar o cu no banco dos réus, porque se serviam de uma polícia política, que fica na história de todos os fascismos que negam a existência do homem e de Deus, perseguindo-os e matando-os pela calada da noite, como fizeram a muitos comunistas.
São temas de hoje e de sempre. E sempre que estiver a dignidade da pessoa em causa temos o dever de a proteger dos algozes de ontem e de hoje. O crime que o Padre Mário afinal cometeu foi na essência praticar a verdade do Evangelho.

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