quinta-feira, 2 de maio de 2013

Com a fraternidade do mês de Maio, onde estão os amigos do Carlos Paiva?

O povo é que sabe que muita parra e pouca uva, se justifica na vulgaridade das palavras que o vento leva e não tráz resposta . Não precisava de viver esta experiência, quantas vezes apoiado pela minha mulher, para perceber que os verdadeiros amigos são feitos de uma espécie rara, os tais tótós, como me chama um outro companheiro que até estimo. Mas hoje falo do Carlos, que é um caso gritante do que são amizades apenas apregoadas e palmadinhas nas costas, que existiram e se esfumaram pouco depois; eu sentiria remorsos... É verdade que o Carlos se destruiu já no passado, e no presente rejeitou o apoio dum pequeno grupo, que lhe poderia ter melhorado a sua situação no dia a dia. Mas este  Carlos Paiva é assim mesmo, e não é capaz de deixar o seu cantinho, prefere aquela escuridão, batendo pelos cantos e corredores da sua casa, com a sua bengala de invisual. Eu digo-vos ele é um homem de grande coragem, que me tem dado exemplos, até me censuro quando reparo  na minha habitual choradeira de mal amado na vida, e sem razão. Ele nos seus bons tempos gostava de ajudar, assim aconteceu com o tenor Luis Pinto que se vê na fotografia. Foi "pela sua mão" que actuou pela primeira vez no Casino da Figueira da Foz. Agora invisual e velho, muitos o censuram e ignoram. Terão as suas razões, não vou defender do que não sei, e claro terá defeitos, todos o sabemos. A minha vivência com o Carlos Paiva vem de longe, dos tempos do Correio da Figueira, e das Rádios, conheço-o razoávelmente. Talvez há mais de vinte anos atrás eu dizia-lhe para ter cuidado, pois amigos amigos, negócios à parte. Em geral é bom não precisarmos deles, só assim a amizade perdura, e na verdade o lógico é bastarmo-nos a nós próprios.  Quando a fatalidade se tornou evidente com a perda da visão, ainda tentei "mexer" e conseguir uma festa, algo para angariar uns euros, mas o Carlos não tem nada para dar em troca e eu não tenho capacidade sozinho para tal evento, e lentamente o caso caiu no esquecimento. Os jornais para quem ele deu o seu melhor, esqueceram-se, fazem-lhe entrevistas esporádicas para vender papel, mas não vão mais além, e o mal é dele, cego e cada vez mais só. Eu não quero armar-me em bom e dono de ideias salvadoras, mas os jornais e a Rádio Foz do Mondego, para quem o Carlos trabalhou poderiam fazer qualquer coisa em beneficio dele. Sabemos que é alcoólico, mais uma desgraça que o domina, mas não devemos esquecer que é dum ser humano que se trata, um homem, e por isso mesmo não merece ser excluido e abandonado na valeta. Cair é fácil, e hoje é ele; amanhã poderá ser um de nós. Enquanto vivermos estamos sempre candidatos ao bem e ao mal.   

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