Que tempos aqueles de todos os sonhos da juventude.

O reporter MABOR


Achei graça que na minha apresentação no aniversário do Atlético Montemorense, onde me honraram com uma lembrança, tenham recordado (com saudade minha) “o reporter” que eu gostava de parecer nos longinquos anos 50.
Também Couceiro Figueira, atleta e treinador nessas épocas distantes, foi agora homenageado pela direção do clube. Ausente por falta de saúde,foi representado por Virgilio Ferreira. Do mesmo modo, honras iguais para Morais Jorge.
Tambem para satisfação minha, o Jornal de Montemor, referenciou alguns factos acontecidos já lá vão talvez uns 55 anos, por Terras de Montemor.
Foi uma sensação longinqua mas estimulante, da qual gostei e fez-me bem, não tenham duvidas.
O meu passado por Terras de Montemor, é igual a muitos outros que não conseguem viver (mesmo que tenham corrido mundo) sem a identidade social de onde partiram, e carregam consigo o cheiro e o pó das suas terras, que os alimenta e os torna verdadeiros.
Naquelas datas, eu já trabalhava como barbeiro na Figueira da Foz, mas aos fins de semana regressava no comboio até ao apeadeiro de Montemor, e dali até ao meu cantinho, a Barca, onde me esperava o convivio com as minhas gentes. Eu tinha ali uma modesta barbearia e aproveitava aquele tempo de lazer, para trabalhar, e assim ajudar monetáriamente a minha mãe, já viuva nessa altura. As noites escuras naquele pequeno povoado, faziam-me angustia (não havia electricidade nem sequer na rua) por isso ao anoitecer regressava á Figueira da Foz.
Mas antes, nalgumas tardes de Domingo havia futebol em Montemor, e lá estava eu. Na Vila existia o Atlético Montemorente e a Juventude Radiosa; recebiam as equipes da Carapnheira, Gatões, Alfarelos, Ereira,Verride e outras. No livro que publiquei contei a história do clube, e coloquei algumas fotos; numa até está o Alves Barbosa como guarda redes, ele que viria a ser grande, não no futebol, mas no ciclismo.
Nessa altura publicava-se na Figuiera da Foz, o Jornal Figueira Spor, dirigido por Aníbal José de Matos, poeta e jornalista. Este Jornal aceitava e publicava os meus modestos textos, relativos aos jogos disputados em Montemor e nas freguesias, e também outras noticias que eu trazia de Montemor. Eu andava sempre de bloco de apontamentos e algo que escrevesse, para o que desse e viesse... Sonhava ser jornalista... De sonhos também se vive - e também se morre...
Só depois de casado(1966) vim a saber, pela minha mulher, que as raparigas se riam de mim, ela incluída, e me chamavam o "Reporter Mabor"... Nunca cheguei a saber nessa altura, e quando ela me contou, já fora de tempo, claro, achei graça; - a juventude sempre foi irreverente e gozona...
Não havia outra distração, de modo que o futebol caiu ali em cheio, e aos Domingos era ver as pessoas de todas as idades a encaminharem-se para o local do jogo. E as mulheres participavam, gritavam pelos nomes dos jogadores, indignavam-se quando algum empurrava o outro e este ia ao chão, e manifestavam-se ruidosamente. Havia gosto por aquele desporto, com tão pouca técnica, e praticado num campo tão rudimentar...
Existiram vários, até chegar ao actual, O Campo das Lages cada vez mais melhorado, e que em breve terá o almejado piso sintético.


(O Reporter Mabor era um apontamento desportivo transmitido pela Emissora Nacional aos Domingos à tarde no fim dos jogos.Lança Moreira era o realizador